Turismo em Brumadinho ainda luta para voltar ao normal
Após maior tragédia trabalhista no país, cidade enfrenta dificuldades para retomar movimento de visitantes, mas avanço da vacinação e atrações naturais e culturais, como Inhotim, reativam turismo
Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, sempre se destacou por suas belezas naturais, trilhas e cachoeiras, mas, desde o rompimento da barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, em 2019, maior tragédia no ambiente de trabalho do país, que causou 272 mortes, a cidade enfrenta dificuldades para retomar o movimento normal.
Segundo a Prefeitura da cidade, dados do Instituto Inhotim, museu de arte contemporânea e Jardim Botânico, mostram que, antes do rompimento da barragem, o local recebia cerca de 400 mil turistas por ano, 20% deles estrangeiros. Após a tragédia e com a pandemia, esses números caíram drasticamente e a cidade vem enfrentando problemas para atrair novos visitantes. “Entre as principais dificuldades do setor de turismo estão a diminuição no fluxo de visitação e o recuo no desempenho de algumas atividades e serviços”, informou a secretaria em nota.
Destinos de serra, montanha e campo são muito desejados
Pesquisa do Travel Lab – Laboratório de Inteligência de Mercado em Viagens, informa que a busca pela natureza é um dos destinos preferidos pelos brasileiros.
Este é o desafio atual de Brumadinho. O impacto no meio ambiente com o rompimento da barragem em 2019 ainda está sendo medido e acompanhado. Um estudo feito pela Fundação SOS Mata Atlântica mostrou que, antes da tragédia, Brumadinho tinha 15.490 hectares bem preservados de Mata Atlântica, o equivalente a 830 campos de futebol. Isso representa 24,22% do que havia do bioma originalmente no município.
Existiam também outros 7.058 hectares de florestas naturais. O rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão resultou na perda de 112 hectares de florestas nativas. Destes, 55 eram de áreas bem preservadas, monitoradas anualmente pelo Atlas da Mata Atlântica.
Indicadores obtidos um ano após o rompimento da barragem mostraram que a água do Rio Paraopeba continuava imprópria para uso ao longo dos 356 quilômetros impactados pelos rejeitos de minério. Nos 21 pontos de coleta monitorados, a qualidade da água estava ruim em 11 e péssima em nove. Segundo o Greenpeace Brasil, ao menos 17 municípios que ficam no entorno do rio foram afetados pelo desastre ambiental, atingindo cerca de 600 mil pessoas. Com a mudança drástica na qualidade da água, os ecossistemas, as atividades econômicas e a vida das comunidades dessas regiões hidrográficas foram bruscamente alteradas.
Para Alexandra Andrade, presidente da AVABRUM (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão), o desenvolvimento local de Brumadinho e regiões é uma das preocupações do projeto Legado de Brumadinho, idealizado pela AVABRUM e desenvolvido pela SABIC (Associação dos Amigos das Bibliotecas Comunitárias)
“O potencial do turismo ecológico é cada vez maior e Brumadinho precisa ocupar este espaço”, observa. Ela chama atenção para o papel das organizações sociais e lideranças na defesa ambiental que, na luta pela proteção do meio ambiente, acabam por estimular o turismo, que também precisa de regras claras e seguras. “Tivemos aqui, uma tragédia trabalhista, cuja responsabilidade criminal será julgada, mas também sofremos uma devastação ambiental”, ressalta.
Para fortalecer as organizações sociais que atuam na defesa ambiental, o Projeto Legado oferece um curso de capacitação, ministrado pela Fundação Dom Cabral. A carga horária oferece conhecimentos para capacitar os gestores de iniciativas sociais de pequeno porte para assimilarem os fundamentos de governança e gestão necessários para obter melhores resultados e buscar a sustentabilidade da organização.
Inhotim preservado
Museu a céu aberto, com obras de mais de 60 artistas renomados como Adriana Varejão, Aleksandra Mir, Willian Kentridge, entre outros, Inhotim não foi afetado pelo rompimento da barragem e continua preservado. As obras de arte estão dispostas entre os ricos biomas da Mata Atlântica e do Cerrado e as paisagens exuberantes ao longo dos 140 hectares de visitação. O Jardim Botânico conta com mais de 4,3 mil espécies botânicas raras, vindas de todos os continentes.
Confira alguns pontos turísticos de Brumadinho
Monumento Natural Serra da Calçada – Preservar, em alguns trechos, o calçamento original do século XVIII. O complexo minerário Forte de Brumadinho e a fábrica de São Caetano da Moeda Velha, ambos tombados pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG), estão nessa região.
Vista da Serra da Calçada, Crédito: Iepha-MG
Cachoeira da Ostra – Tem águas cristalinas e boas para banho, com profundidade média e leve corredeira. O local está aberto todos os dias durante o horário comercial e é gratuito.
Vista da Cachoeira da Ostra, Crédito: prefeitura de Brumadinho
Parque Estadual da Serra do Rola-Moça – O local tem uma riqueza natural exuberante singular, com uma rica biodiversidade constituída por uma série de espécies da fauna e da flora brasileiras.
Vista da Serra do Rola Moça – Crédito: prefeitura de Brumadinho-MG
Cachoeira do Poço Encantado – Fica no Conjunto Histórico e Paisagístico da Serra da Calçada. É um poço de águas cristalinas rodeada pela Mata Atlântica. A região tem inúmeras nascentes que abastecem os riachos. É indicada para amantes do trekking.
Vista do Poço Encantado, Crédito: prefeitura de Brumadinho
Inhotim – É uma experiência única que mescla arte e natureza Conta com os ricos biomas da Mata Atlântica e do Cerrado e ainda cerca de 700 obras de mais de 60 artistas, de quase 40 países, exibidas ao ar livre e em galerias em meio a um jardim com mais de 4,3 mil espécies botânicas raras, vindas de todos os continentes.
Vista do Inhotim, Crédito: Arquivo Pessoal
Estação Ferroviária – Mesmo desativada, é uma parada obrigatória. Inaugurada em 1917, a construção da estação, assim como da linha férrea, possibilitou a vinda de muitos trabalhadores, dando assim origem às primeiras habitações e povoados da atual região central de Brumadinho.
Estação Ferroviária – Crédito: prefeitura de Brumadinho
O primeiro pilar do Projeto é o da proteção à vida, para que tragédias como a que aconteceu em Brumadinho não aconteçam mais. O segundo pilar é o da construção de oportunidades para as pessoas e as comunidades, para que Brumadinho e redondezas possam buscar novos caminhos para o desenvolvimento. O último pilar é o da cultura e da arte, como forma de construção de conhecimentos e ressignificação da vida. É através destes pilares que o Projeto Legado de Brumadinho busca melhorias e atrair mais pessoas para a cidade de Brumadinho, para que a cidade possa se reerguer e receber mais turistas.