Produções dos alunos da Oficina de Comunicação Comunitária do Projeto Legado de Brumadinho já estão nas redes sociais, Spotify e YouTube

Produtos pautam histórias de luta da AVABRUM, memórias e valorização da vida. Objetivo é que jovens se tornem multiplicadores das causas que mobilizam os familiares das vítimas do rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão

Programas de rádio e de vídeo produzidos no primeiro ciclo da Oficina de Comunicação Comunitária do Projeto Legado de Brumadinho já estão disponíveis no Spotify, no YouTube e no Instagram. A oficina teve início em junho, com objetivo de mostrar que o conhecimento é uma das mais importantes aquisições que um jovem pode receber.

Ao todo, 20 bolsistas fazem parte da rede CEJA – Comunicação Expressiva Pelas Joias que, em encontros semanais, participam da Oficina e aprendem a elaboração de produtos midiáticos nos formatos de áudio, vídeo e gráfico sobre temas relacionados a Brumadinho. A ideia é que eles passem a dominar as técnicas de produção de conteúdo e se transformem em porta-vozes e multiplicadores das causas que mobilizam a cidade, que em 2019 foi atingida pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, matando 272 pessoas.

As capacitações giram em torno de produção de notícias, oficinas de rádio, design gráfico e vídeo, com alinhamento constante e direto com a AVABRUM (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos da Tragédia do Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão).

De acordo com o professor Elias Santos, coordenador da Oficina, é muito importante valorizarmos a comunicação e mostrar o quão relevante ela é. “No mundo inteiro existe uma desvalorização da comunicação. Nossa primeira ideia é valorizá-la e mostrar que é algo fundamental para o ser humano. A comunicação comunitária é uma possibilidade dos jovens se desenvolverem, dentro de suas particularidades, para que outras informações cheguem à sociedade, por meio de um trabalho que abrange uma multiplicidade de vozes, característica que percebemos nas oficinas. Isso nos anima muito”, menciona.

Os alunos são de Brumadinho e região e têm um laço bastante estreito com a comunidade. Alguns são parentes de vítimas fatais, carinhosamente chamadas de ‘joias’, e buscam, dentro da comunicação, expressar seus sentimentos e dar voz aos que mais necessitam.

Aluna do curso, Perla Silva, que perdeu a irmã mais velha na tragédia-crime, diz que as oficinas melhoraram sua vida. “Eu me sentia mais tímida, contida. Estou aprendendo muita coisa e isso tem me ajudado bastante em vários campos da minha vida”, comenta a jovem. “Está tudo sendo instrutivo e é uma grande oportunidade de adquirir mais conhecimento. Esse grupo poderá contribuir como porta-voz, esclarecendo fatos que a sociedade ainda não tem conhecimento, e falar com propriedade o que acontece, sem ‘maquiagem’ como se vê por aí”, completa.

No planejamento, os jovens que atuaram na Oficina de rádio pretendem lançar semanalmente episódios de Podcast. Os dois primeiros já estão disponíveis no canal Rádio Legado de Brumadinho, no Spotify. O primeiro se trata de uma matéria apresentando o projeto Legado de Brumadinho e sua importância. O segundo podcast, também no ar, pauta o protagonismo dos jovens da rede CEJA.

No audiovisual, o primeiro conteúdo produzido pelo coletivo traz a história da AVABRUM, suas bandeiras de luta e ações. A videorreportagem também mostra como os artistas da comunidade criaram a Banda São Sebastião. Intitulado de ‘A luta pelo valor da vida em Brumadinho’, o programa já está disponível no canal do YouTube do Legado de Brumadinho. Um segundo programa, que será lançado no final de outubro, trará informações sobre o projeto, os objetivos e metodologias da Oficina de Comunicação Comunitária e trará relatos dos participantes.

Já na parte gráfica, a versão digital do Fanzine, com 68 páginas, estará disponível a partir de segunda-feira, 3 de setembro, no site do Legado de Brumadinho. A revista trará reportagens e textos informativos com os perfis dos jovens do grupo de produção em artes visuais criado neste primeiro ciclo da Oficina de Comunicação Comunitária; a proposta da Rede CEJA; um breve panorama de Brumadinho; a conexão entre a CEJA e a AVABRUM na luta pela vida; o projeto da Cozinha Comunitária; o empreendimento Butequeria Águas Claras; a tradição do pastel de Angu da Festa de São Sebastião. Também reúne poesias e ensaios fotográficos dos jovens, um caça-palavras com termos da cultura culinária da cidade, letra de música, além de receitas de pratos tradicionais

No início do projeto, os educadores tinham como expectativa que os alunos fossem capacitados para produzirem de maneira autônoma e independente e consigam, assim, dar continuidade ao projeto. Hoje, o resultado já impressiona, mesmo com apenas o primeiro ciclo da oficina finalizado.

O projeto Legado de Brumadinho foi criado com o objetivo de deixar, como herança social em homenagem às 272 vidas ceifadas no rompimento da barragem da Vale, em 2019, um importante legado, com busca por justiça e voz aos atingidos.

A realização das oficinas de comunicação comunitária do projeto é feita pela Sabic (Associação dos Amigos das Bibliotecas Comunitárias), responsável também pela gestão do Projeto Legado de Brumadinho.

O Projeto Legado conta, ainda, com ações de comunicação e publicidade de interesse público, com suporte às causas sociais da AVABRUM, e promoção de atividades educativas e de capacitação, com foco no desenvolvimento local. A cultura é outro pilar do Legado, com a realização de seminários, concertos e manifestações artísticas. A premissa é manter a memória e a mobilização, de modo a fortalecer a rede de solidariedade em torno das necessidades sociais dos familiares, atingidos e da comunidade.

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