Organizações sociais concluem BASIS, curso oferecido pelo Legado e FDC para fortalecer entidades que trabalham em prol de Brumadinho

Fruto de parceria formada por causa do rompimento da barragem da Vale, que deixou 272 mortos na cidade, principal aprendizado do curso destacado pelos participantes foi a importância do trabalho em rede. Para familiares das vítimas, organizações também se fortalecem para lutar por justiça, encontro e memória

O Projeto Legado de Brumadinho*, em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), finalizou no último sábado (11/02) o curso BASIS – Trilha de Capacitação para Gestores de Iniciativas Sociais, com a participação de 15 organizações civis da cidade. Iniciado em novembro e com encontros aos sábados, o BASIS teve como objetivo a capacitação dos gestores de iniciativas sociais de pequeno porte, para assimilarem os fundamentos de governança e gestão necessários para obter melhores resultados e buscar a sustentabilidade da organização. 

Turma do BASIS formada pela Projeto Legado de Brumadinho | Fotos: Washington Alves

Durante o curso, os representantes das instituições participantes puderam compartilhar informações e fortalecer vínculos, concluindo sobre a importância do trabalho em rede, quando cada organização contribui para o desenvolvimento de um projeto regional comum.

“O curso superou as nossas expectativas. Não temos somente a capacitação, mas também uma grande rede que agregará não somente pelo indivíduo, mas também com associações. Podemos fazer a diferença com o que aprendemos e, se acionarmos os apoios para obter mais pessoas com a visão para a sociedade civil, podemos unir forças em busca da resolução de problemas da sociedade”, disse José Humberto, um dos representantes da Associação Global Equipe.

Compartilhando aprendizados

Renata Alves, também da Global Equipe, disse que pretende compartilhar o que aprendeu. “Pretendemos repassar o que aprendemos aqui aos nossos colaboradores em forma de treinamento para atuação, começando a aplicar na comunidade através de encontros e oficinas”, afirmou.

Alcimary Aparecida, da Associação dos Moradores de Melo Franco, criou laços que seguirão unidos, segundo ela, por bons anos. “Vi que tem pessoas que deixam de fazer coisas pessoais para estar em uma organização, ajudando o próximo. Isso é muito valioso. Eu aprendi muito com este curso e pretendo aplicar no dia a dia, em conjunto, em busca de melhorar nossas comunidades”, disse. 

Organizações em pleno funcionamento, trabalho em uma rede visando união, troca de conhecimentos e planos de atuação são os destaques do curso, segundo  Queriston Martins Pontes, da Associação Comunitária do Aranha. “Estamos na base do terceiro setor. Aqui tivemos acesso aos conhecimentos que qualquer associação precisa ter. Nós somos pequenos, desconstituídos de gestão, mas tivemos uma oportunidade incrível aqui. O BASIS é agregador e transformador, pois nos colocou em um outro patamar. Não foi somente a base estrutural, mas o primeiro tijolo de uma construção de consolidação de uma rede parceira em Brumadinho, sendo um enorme legado”, finaliza. 

Capacidade de organizar para agir

Para Ana Vitória Alkmim, professora de comunicação e estratégia do BASIS, o papel do professor no curso é o de facilitador, por proporcionar um ambiente para que os alunos compartilhem as experiências, forneçam informações e, juntos, construam um conhecimento, no intuito de despertar da inteligência coletiva. 

“O principal legado é o desenvolvimento da capacidade de se organizar para agir. O que a gente percebe é que os acontecimentos que abalaram Brumadinho tiraram as pessoas da rotina e, de certa forma, passaram a exigir que as pessoas saíssem da zona de conforto e se organizassem para evitar que isso aconteça novamente. O que a gente espera é que eles possam levar desse programa uma chama, vontade e visão de que, organizados, poderão construir coisas que às vezes nem imaginavam”, disse a professora. 

Já para Luana Fernandes, da FDC, coordenadora do BASIS em Brumadinho, o grupo formou uma turma especial. “Para esta turma do BASIS, a questão da rede que formaram ganhou destaque. Quando eles chegaram, não se conheciam e foi muito legal a criação de laços. Sobre as temáticas, as grades foram elaboradas após verificação da própria FDC sobre a atuação de cada instituição, como estratégia, gestão e marketing delas. Como são instituições pequenas, passamos bases estruturais para que elas continuem com os trabalhos”, disse. 

Fortalecer para honrar as vítimas da tragédia

Para a Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (AVABRUM), que idealizou o Projeto Legado de Brumadinho*, a parceria com a FDC teve o intuito de contribuir para o fortalecimento das iniciativas de impacto social na cidade. 

“Hoje foi o encerramento da turma do BASIS, com a capacitação com a referência da Fundação Dom Cabral. Nosso intuito aqui foi que as associações se fortaleçam e se capacitem para poder dar continuidade à luta aqui em Brumadinho, para que elas se empoderem e nos ajudem a somar nas buscas por justiça [pela responsabilização dos culpados], encontro [três vítimas ainda não foram encontradas] e memória [pelo não esquecimento, para que tragédias como essa nunca mais aconteçam], e que honrem as 272 vítimas do rompimento da barragem da Vale. Que as associações possam estar capacitadas para falar por elas mesmas, e que elas consigam fazer as lutas e trazer uma melhoria para a comunidade local”, disse Josiane Melo, diretora da AVABRUM.

Programa PILARES apresenta resultados

A FDC e a AVABRUM também concluíram o PILARES, programa da Fundação que discutiu e ajudou na elaboração do planejamento estratégico da organização. “A sociedade civil se forma muito pelas pessoas e a vontade que elas têm em fazer algo bom, em prol de pessoas e organizações. Hoje com a formação do PILARES, saímos daqui fortificadas, com direcionamento melhor para poder construir novos projetos para colocar os desejos em ações. Esse é o principal legado”, finalizou Josiane Melo.

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