Omissão do poder público e impunidade unem vítimas de grandes tragédias recentes no país

Em Seminário 5 Anos Sem Justiça, rede de solidariedade pelo fim da impunidade é formada por familiares e vítimas de tragédias provocadas pelas empresas Vale e Tüv Süd, em Brumadinho; Samarco (da BHP e da Vale), em Mariana; Braskem, em Maceió; e da Boate Kiss. Encontro segue à tarde, com representantes do judiciário e da polícia federal para debater as investigações e a ação penal de Brumadinho

Brumadinho, 22 de janeiro de 2024 – Uma rede de solidariedade com o objetivo de alcançar a punição dos culpados por grandes tragédias causadas pela irresponsabilidade de empresas e omissão do poder público no Brasil foi formada hoje, em Brumadinho. No Seminário 5 Anos Sem Justiça, familiares e vítimas de tragédias provocadas pelas empresas Vale e Tüv Süd, em Brumadinho; Samarco (da BHP e da Vale), em Mariana, Braskem, em Maceió; e da Boate Kiss, se comprometeram a seguir unidas para exigir mais celeridade das ações penais e mais comprometimento do judiciário com as vítimas. Nessas quatro tragédias, mais de 500 pessoas morreram e centenas de milhares foram atingidas e, até hoje, não houve punição para os culpados.

“Como o Judiciário quer ser lembrado? Do lado da Justiça ou da Impunidade?”, questionou Andresa Rodrigues, presidente da AVABRUM (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão). “Assim como se passaram 5 anos da tragédia-crime da Vale sem justiça, 11 anos se passaram da Boate Kiss, 8 do crime de Mariana e, em Maceió, são 6 anos de impunidade. Nós esperamos, de esperançar mesmo, e lutaremos para que a justiça esteja do lado de fazer com que os responsáveis por todas essas tragédias respondam pelo crime que cometeram”.

Seminário 5 Anos Sem Justiça, em Brumadinho – Foto: Alexandre Araújo

Na primeira parte do Seminário, hoje pela manhã, os representantes das vítimas fizeram relatos emocionados sobre as omissões do poder público que levaram às tragédias, além de falhas nas investigações dos casos, problemas processuais, violações de direitos e impactos nas comunidades. “Em todos esses casos vemos a ausência da Justiça, a falha na fiscalização e o poderio que essas mineradoras e empresas detêm”, afirmou a presidente da AVABRUM.

Flávio Silva, pai da Andrielle Righi da Silva, vítima da tragédia da Boate Kiss, e representante da AVTSM (Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss), em Santa Maria, defendeu a criação de uma instituição que reúna as vítimas e familiares das grandes tragédias. “Precisamos de uma organização que represente as associações que lutam por Justiça por essas tragédias vergonhosas. Juntos vamos nos fortalecer e ser mais respeitados pelo poder judiciário do país.”

“Nós precisamos, com essa força, com essa união, trazer o benefício a tantos outros que não sofreram tragédias, por causa da omissão e ganância”, reforçou Paulo Carvalho, pai do Rafael Carvalho, também vítima da tragédia da boate Kiss, diretor jurídico e representante da AVTSM. “ E infelizmente as decisões do sistema de justiça são as grandes falhas da nossa sociedade”, disse.

“Caminhar sozinho não nos leva a lugar nenhum. Onze anos da boate Kiss e ninguém foi preso; 8 anos da barragem de Fundão e ninguém foi preso; 5 anos de Brumadinho e caminhando para o mesmo esquecimento; 6 anos de Maceió. Eu acho que juntos podemos fazer a diferença, lutar e, quem sabe alcançar a tão sonhada justiça”, disse Mônica Santos, representante da Comissão de Atingidos da Barragem do Fundão (Mariana).

Rikartiany Cardoso, moradora de Maceió e integrante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, falou também sobre a união de vítimas ter força para mudar a autorregulação privada, quando a própria empresa que pode causar o dano faz a sua fiscalização. “Algumas leis já existem, mas não são executadas. A empresa causa (o dano), se beneficia e se autorregula, cumpre a lei do jeito que acha que tem de ser cumprido”, destacou.

“Nós precisamos lutar contra a legalização da injustiça. Não podemos nos calar de forma alguma”, afirmou Neirevane Nunes, também moradora da área afetada e representante do Movimento Unificado de Vítimas da Braskem (Maceió). “Todas as tragédias aqui reunidas, poderiam ter sido evitadas. Então todos aqueles responsáveis, co-responsáveis, desses crimes, precisam ser punidos. Nós precisamos mostrar que o crime não compensa, e que as vidas valem mais. Infelizmente, a gente vive em uma sociedade em que os lucros são privados, mas as dores são coletivas”, completou.

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