Oficinas do Legado de Brumadinho qualificarão novos comunicadores comunitários

A expectativa é que os estudantes, após a capacitação, possam continuar contando a história e os impactos do dia 25 de janeiro de 2019, além de mostrar, para dentro e fora de Brumadinho, que 272 vítimas não são meras estatísticas

O Projeto Legado de Brumadinho está promovendo oficinas para mostrar que o conhecimento é uma das mais importantes aquisições que um jovem pode ter. Ao todo, 18 estudantes-bolsistas se reuniram em Brumadinho, na manhã do sábado, dia 18, e deram início ao curso de comunicação comunitária. Com duração de oito meses, a expectativa é que os alunos tenham autonomia, no final, para produção independente e consigam, assim, dar continuidade ao projeto de porta-voz das causas e acontecimentos que afetam o dia a dia da comunidade.

De acordo com Elias Pereira dos Santos, que é jornalista, radialista, professor de comunicação e um dos coordenadores das oficinas, é muito importante valorizarmos o potencial da comunicação. “A nossa primeira ideia é valorizar e mostrar que a comunicação é fundamental para o ser humano  e a vida em sociedade”, afirmou.

Um dos legados que o Projeto Legado de Brumadinho pretende deixar é o da proteção da vida, falando sobre segurança do trabalho com respeito à vida, para que tragédias evitáveis como a de Brumadinho, que matou 272 pessoas, nunca mais aconteçam. Nesta perspectiva, a oficina vai envolver a juventude da cidade num trabalho de comunicação comunitária de modo a alcançar toda a região de Brumadinho e mesmo os municípios que têm problemas semelhantes. 

“A comunicação comunitária é uma possibilidade dos jovens se desenvolverem, dentro de seus padrões, para que outras informações cheguem na sociedade, através de um trabalho de ampliação da diversidade de vozes. E aqui percebemos uma grande diversidade. Isso nos anima muito”, afirmou o coordenador.

Com capacitação em produção de notícias, oficinas de rádio, design gráfico e vídeo, serão ensinadas, durante os encontros, técnicas de comunicação para que os participantes se tornem aptos a atuarem como agentes de comunicação comunitária. 

No primeiro encontro os jovens puderam se conhecer e realizar dinâmicas. A presidente da AVABRUM (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos da Tragédia do Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão), Alexandra Andrade, e as diretoras da associação Jacira Rezende, Maria Regina da Silva e Josiane Melo concederam entrevistas aos estudantes.

Diretoras da AVABRUM foram entrevistadas pelos estudantes

A diretoria da AVABRUM também compartilhou com os jovens a história da entidade, conquistas, trabalho já realizado e desafios. A associação criou o Projeto Legado de Brumadinho para deixar um legado social a partir das 272 vidas que foram ceifadas enquanto estavam em um momento de trabalho durante o rompimento da barragem da mineradora Vale na área do Córrego do Feijão, em Brumadinho, no dia 25 de janeiro de 2019.

Justiça, encontro e memória

Alexandra mencionou a importância da atividade para o município: “A expectativa é que eles (bolsistas) continuem contando toda a história e, assim, fortalecerem as práticas de comunicação da AVABRUM e da população de Brumadinho. Lutamos por justiça, com a responsabilização das pessoas e empresas que causaram a tragédia, encontro de todas as vítimas, memória e honra das 272 vítimas, para que isso não caia no esquecimento. Esse trabalho é um importante braço que ganhamos para dar voz ao que realmente sentimos”.

Os estudantes têm entre 14 e 29 anos. As aulas serão sempre aos sábados, de forma presencial, das 9h às 13h. Os professores são formados em comunicação e possuem experiência em diversos campos, além de trabalhar com mídias comunitárias. Realizada na casa que é a sede das atividades do Projeto, o espaço oferece aos alunos a comodidade das instalações e toda a tecnologia necessária para a formação dos jovens – os equipamentos também podem ser usados fora da carga horária dos cursos. Os estudantes recebem uma bolsa de R$ 1.260,00 e devem comprovar presença, compromisso, bem como responsabilidade na realização das tarefas definidas pelos instrutores das oficinas.

‘Vítimas não são estatísticas’

Empolgado, o jovem Vitor Gabriel, de 21 anos, espera ajudar na construção desse legado proposto pelo projeto. “Precisamos levar as memórias de 272 vítimas e mostrar para dentro e fora de Brumadinho que não eram estatísticas, números. Precisamos nos comunicar e mostrar para a comunidade a realidade que as famílias vivem e passam. Espero que eu possa crescer e aprender muito com todos aqui e também servir de inspiração para os jovens que virão depois de mim”, disse. 

Para Elisa Melo, da coordenação técnica do projeto Legado, a oficina é um importante suporte para a AVABRUM e para a população da cidade. “Esta oficina de comunicação é fundamental tanto para a associação quanto para o resgate da cidadania das pessoas que vivem aqui. Nesse primeiro encontro, os jovens estão bem apropriados destes objetivos e conscientes do papel que precisam desempenhar daqui para frente”, disse.

A realização das oficinas de comunicação comunitária do projeto Legado de Brumadinho é realizada pela Sabic (Associação dos Amigos das Bibliotecas Comunitárias), responsável também pela gestão do Projeto Legado de Brumadinho.

O Projeto Legado conta, ainda, com ações de comunicação e publicidade de interesse público, com suporte às causas sociais da AVABRUM, e promoção de atividades educativas e de capacitação, com foco no desenvolvimento local. A cultura é outro pilar do Legado com a realização de seminários, concertos e manifestações artísticas. A premissa é manter a memória e a mobilização, de modo a fortalecer a rede de solidariedade em torno das necessidades sociais dos familiares, atingidos e da comunidade.

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