Oficina de Comunicação Comunitária ajuda jovem-bolsista a superar barreiras e traumas da tragédia

Como produtor de podcast e também fonte de matéria, Daniel diz que hoje está mais preparado para falar com as pessoas

Perder um primo próximo, morar em uma comunidade atingida e ver seus vizinhos indo embora. Esta é a realidade do jovem Daniel Medeiros, de 16 anos, morador dos Pires – um dos bairros de Brumadinho que mais foi impactado pela tragédia-crime da Vale, principalmente por margear o Rio Paraopeba. De vida pacata, com traços e atuações rurais, Daniel gosta de música no estilo sertanejo raiz – que combina perfeitamente com o ambiente em que ele cresceu.

Porém, de uns tempos para cá, após o rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão, que causou a morte de 272 pessoas, a música não ecoa tão alto quanto o barulho de máquinas trabalhando na remoção da lama. Uma mudança radical de sua comunidade deixou as coisas bem diferentes, tornando todo o ar interiorano que vivia diariamente em um canteiro de obras.

No primeiro ciclo da Oficina de Comunicação Comunitária do Projeto Legado de Brumadinho, batizada pelos alunos de CEJA (Comunicação Expressiva pelas Joias), Daniel atuou com os produtos radiofônicos. Tímido, conseguiu superar barreiras e desempenhar um ótimo papel – inclusive sendo fonte dos próprios companheiros de Oficina. “Achei bem legal participar da Oficina. Todos os sábados encontro o pessoal e me sinto, hoje, mais aberto. Costumamos falar sobre tudo que acontece em Brumadinho, sobre meu bairro e sobre mim mesmo”, comenta.

Durante uma das atividades, os alunos foram se conhecendo mais e Daniel pôde mostrar a todos sua paixão por cavalos. Em uma das tantas pautas levantadas, ele foi uma das fontes de sua turma e, inclusive, contribuiu com sonoplastia em um dos momentos. “Brincava com isso (fazer barulho de passos de cavalos) e acabou indo para um episódio. Foi bem divertido”, frisa, em tom descontraído.

Coordenados pela jornalista e educadora Alessandra Dantas, os alunos abordaram temas relevantes para a população brumadinhense, visando a valorização da cultura local e espaço midiático. Eles utilizaram as melhores ferramentas disponibilizadas para gravação e edição dos produtos, atuando tanto durante a semana quanto nos encontros de sábado:

“O primeiro ciclo foi de grande produtividade, porque os alunos começaram ainda sem saber muitas técnicas de áudio e, com as semanas trabalhadas, foram aprendendo e desenvolvendo. Nós fizemos uma mescla de atividades: nos encontros aos sábados, foram ensinadas técnicas de aperfeiçoamento e, durante a semana, os alunos puderam trabalhar a parte teórica, colocando em prática o processo de produção, como, por exemplo, a realização de pautas e entrevistas”.

Os participantes do projeto elaboraram dez matérias de rádio, sendo cinco com foco nos perfis sonoros de cada um deles e cinco com reportagens com viés cultural, tais como a Festa do Bacon, a tradicional Cavalgada de São Sebastião e ioga no Centro de Convivência da AVABRUM, entre outros. Os jovens também tiveram a oportunidade de conhecer a Rádio Regional FM, em Brumadinho, onde fizeram a divulgação dos produtos.

Alessandra destacou que pautar assuntos culturais é muito importante para a comunidade, pois ela pode se ver e se sentir representada. “Como destaque, pautar a cultura local é algo muito importante para a sociedade. Um dos materiais elaborados foi sobre a cavalgada em Brumadinho. E Daniel foi peça importantíssima para a criação, pois ele atuou como produtor da matéria e, também, como fonte. Foi bem legal porque ele tem conhecimento sobre o assunto”, comenta a educadora.

Daniel diz que, inicialmente, sentiu dificuldade, principalmente quando precisava realizar entrevistas, mas depois tudo fluiu normalmente: “Eu achei mais complicado entrevistar as pessoas por causa da timidez e não imaginava que daria certo. Tivemos que repetir, fazer mais vezes até acertar, e o resultado ficou muito bom. Hoje mostro para os amigos”, acrescenta.

Após a edição, o jovem se surpreendeu. “Depois que eu vi o áudio completo e editado, percebi que valeu a pena o esforço. Isso me ajudou muito, porque hoje eu me considero mais preparado para falar com as pessoas, independentemente de estar na Oficina ou não. De fato, é algo que levarei para a vida toda”, finaliza. 

Os episódios do Podcast estão disponíveis no Spotify, na Rádio Legado de Brumadinho. Ouça e divulgue aos amigos.


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