Criatividade e mãos à obra: como o fanzine despertou memória afetiva na Oficina de Comunicação Comunitária

Para Pâmela Silva, que participa do projeto, a arte e escrita trouxeram a ela memórias afetivas e lembranças em família: “Me veio toda a família, juntos”

Cores, impressões, recortes e criatividade na hora de pautar temas relacionados a Brumadinho. Estes foram os principais itens trabalhados pelos alunos da Oficina de Comunicação Comunitária, do Projeto Legado de Brumadinho, na construção de um Fanzine. A primeira turma, conduzida pela educadora Mila Barone, teve como propósito do Projeto a aproximação com a cultura local e a importância de despertar o sentimento de pertencimento, tendo um toque artístico como ingrediente perfeito.

O Fanzine vem da combinação do final do vocábulo ‘magazine’, e tem o sentido de ‘revista’, com o início de ‘fanatic’. Basicamente é um veículo editado por um ‘fã’, seja de graphic novels, obras de ficção científica, ou de poemas, músicas, filmes, vídeo games, entre outras temáticas. Neste caso, os alunos trabalharam dentro do tema escolhido, abordando a comunidade.

Logo no início, na construção e debate de ideias para alavancar o projeto, fizeram uma imersão na rica história local, personagens e acontecimentos de Brumadinho e região, inclusive os impactos do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão. Criaram a identidade visual e começaram a trabalhar a imagem do grupo. Em um determinado momento do ciclo, aconteceu uma atividade paralela de serigrafia, ainda dentro da construção da identidade visual do grupo. Camisetas e ecobags foram personalizadas com desenhos e cores diferentes, de modo que os alunos escolhessem qual gravura mais combinaria. De forma descontraída, eles fizeram desenhos e pintaram – inclusive em degradê -, e os produtos customizados estão sendo utilizados por eles em eventos e atividades externas e internas. Também batizaram o próprio grupo com o nome CEJA (Comunicação Expressiva Pelas Joias).

De acordo com Mila, que é designer e educadora, as atividades de artes gráficas foram executadas na busca da identidade de Brumadinho, dentro do primeiro ciclo do Projeto. “Conversamos muito sobre escrita criativa, falamos sobre entrevistas, discutimos como elaborar pautas e abordar tudo dentro do universo gráfico e artístico. Foi tudo feito com muita criatividade e o que temos hoje, em mãos, é um produto bem legal”, finaliza. O resultado de tudo isso é um belo projeto que será, em breve, divulgado, 

Segundo Pâmela Silva, uma das alunas e integrante do CEJA , “o primeiro ciclo [do Fanzine] foi muito significativo. Eu tinha muita dificuldade de me expressar sobre o que estava acontecendo em minha volta. O Fanzine, através das diversas formas de escrita, me ajudou muito no campo pessoal e profissional, onde consegui desenvolver algumas habilidades que já possuía”.

Foi o primeiro contato da jovem de 25 anos com o Fanzine. Ela perdeu sua irmã mais velha, Priscila Silva, na tragédia-crime, e hoje busca dar suporte para sua família, dividindo a tarefa com sua mãe, Maria Regina Silva, e seus irmãos. A Oficina está trazendo um importante legado para Pâmela, que a cada encontro consegue descobrir coisas novas e aprimorar suas habilidades, visão de mundo e se sente muito mais aberta para qualquer tipo de interação. Para ela, o momento em que compartilharam receitas culinárias, dentro de uma das propostas do primeiro ciclo, trouxe uma reflexão e memória afetiva bem singular. “Quando eu era mais nova, juntamente dos meus irmãos, ajudávamos minha mãe na cozinha. Ela costumava cozinhar para nós e também tinha a atividade como uma profissão. Ela cozinhava para fora. Tratamos muito da memória afetiva e isso foi muito especial. Me veio toda a família, juntas, na cozinha”, conta.

Pâmela sempre foi criativa e gostou de auxiliar as pessoas próximas com suas dicas. Ela tem um salão de beleza e tudo que se refere às divulgações de promoções e informações escreve e cria com muita desenvoltura. Está noiva e pretende se casar em breve. O lado artístico, hoje, bem mais aflorado, poderá contribuir muito para o futuro grande dia. “No casamento da minha irmã Paola, eu auxiliei na maioria das coisas. Elaborei o convite e ajudei em toda a parte artística. Sempre desenvolvi campanhas em meu salão e acho que me dou bem na comunicação. Convite de aniversário também, da minha casa, eu sempre fiz. O Fanzine surgiu e consegui aprender muitas técnicas de comunicação que me auxiliarão nisso”, comenta.

Um dos conteúdos que trouxe um novo olhar para os alunos foi a escrita e as formas possíveis para conseguir contar uma história ou narrar um ocorrido. Para Pâmela, dentro de cada linguagem de comunicação, a parte artística é, além de bonita, muito emocionante. “Conseguimos levar para o dia a dia diversas formas de aprendizado. No trabalho, em casa, na vivência com outras pessoas e no desenvolvimento pessoal. A arte e a criatividade do Fanzine abrem os olhos e ensinam, com muita clareza, que podemos ter voz, dar voz e contar, em diferentes formas, muita coisa para as pessoas. Esse é um enorme legado”, acrescenta.

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