Comunidade expressa sentimentos em roda de conversa com Saype e outras personalidades

Bate-papo aconteceu na noite de sexta-feira (22/07) e contou com a participação de artistas, representantes das vítimas do rompimento da barragem e população de Brumadinho 

Expressar e compartilhar a vivência nos cura de dentro para fora. O encontro de sentimentos, experiências, dores, medos e esperanças fazem com que toda vivacidade seja trabalhada e uma melhoria seja percebida no decorrer das ações. A roda de conversa que aconteceu na noite de sexta-feira (22), na Estação Cidadania, levou uma grande reflexão para os participantes. 

Aberto para toda comunidade, com a participação do artista francês Saype, da escritora Carla Madeira, do músico Sérgio Pererê, da professora de Direito Maria Fernanda Salcedo e de Josiane Melo, diretora da AVABRUM, o evento promoveu a conexão das histórias contadas. 

Denominada “Memória não morrerá: artes e narrativas – o Legado de Brumadinho”, a roda de conversa uniu pessoas com poder de narrativa e foco, arte para fazer despertar, na comunidade brumadinhense, uma nova consciência em defesa da vida e do meio ambiente.

Dezenas de pessoas participaram do evento

Integrantes do Coletivoz – um grupo de jovens que recitam poesias e fazem cobranças em forma de arte narrada, levou uma grande reflexão aos presentes, pautando Mariana e Brumadinho, além de outros problemas sociais de nosso cotidiano. 

Tendo como pilar o não esquecimento do rompimento da Barragem da Vale e as 272 vidas ceifadas, o artista francês Saype foi um dos que compartilharam histórias ao redor da fogueira. Ele percorre o mundo transformando arte em legado. “Em todas as viagens eu vejo diferentes causas, mas vivemos no mesmo planeta. Me senti muito bem-vindo e estou aqui porque a arte pode mudar mente e ideias, e pode ser o começo de uma grande mudança.”, menciona. 

Saype exibiu um vídeo onde mostrou seus trabalhos pelo mundo e como a arte pode ser um agente transformador. “A arte é uma linguagem universal e pode conectar pessoas. Mesmo que você não entenda as palavras, você pode sentir através da arte aquilo que eu quero expressar”, comenta. 

Saype, durante a Roda de Conversa

Josiane Melo, diretora da AVABRUM, tem feito da memória das 272 JOIAS ceifadas pelo rompimento da barragem a inspiração na luta contra o descaso pela vida humana. Na roda de conversa, ela agradeceu a presença de todos e disse que tal ação ajuda a fazer com que a tragédia-crime não caia no esquecimento. “Não podemos aceitar. Não podemos permitir que tudo isso fique impune. Se trata de justiça, de uma forma pedagógica”, comenta. 

Josi, da AVABRUM, luta pelo não esquecimento da tragédia

Para a professora de direito Maria Fernanda Salcedo, a ideia de eventos como a roda de conversa ajuda a contar a história do jeito que deve ser contada. A professora, através de suas importantes pesquisas, mostra o dano existencial que precisa ser compreendido diante das dores provocadas pela mineração predatória, que ceifam vidas. “Precisamos preservar o direito à memória. Se não fizermos isso, estaremos matando as pessoas que morreram por duas vezes. Estaremos varrendo a existência delas. Esse direito tem que ser preservado, inclusive na justiça”, menciona a professora. 

Maria Fernanda Salcedo falou da importância da preservação da memória

Uma das participantes da comunidade, Maria de Lourdes, moradora próxima da Estação Cidadania, disse que presenciou no evento muita riqueza e uma espécie de força. “Quando alguém disser pra gente que outras coisas (rompimentos de barragem) assim vão continuar acontecendo, se depender da nossa força, a gente pode questionar e mudar o futuro. É uma espécie de bateria que recarrega a gente”, finaliza, emocionada. Maria de Lourdes perdeu uma vizinha na tragédia-crime.

O artista francês convidado pelo Projeto Legado de Brumadinho, Saype, foi ao local da tragédia para realizar mais uma etapa do seu projeto Beyond Walls, de pinturas gigantes que mostram mãos entrelaçadas. Com 33 anos e muita energia, o artista passou pelo Rio de Janeiro na semana passada e, neste final de semana, finalizou sua pintura no campo de futebol do Córrego do Feijão. 

No sábado pela manhã, ele foi entrevistado por alunos do CEJA – Comunicação Expressiva Pelas Joias, um projeto também realizado pelo Legado de Brumadinho através da Oficina de Comunicação Comunitária. O artista conversou com os jovens sobre seu trabalho, carreira, mineração e seus impactos no mundo e a importância da arte para a construção de um legado. 

Na segunda-feira, 25 de julho, data que o rompimento da barragem completa 3 anos e meio, Saype ainda participou do ato em homenagem às 272 vidas perdidas na tragédia.

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