Com orações, cânticos e flores, familiares fazem homenagem do Dia de Finados em frente à barragem que se rompeu e matou 272 pessoas em Brumadinho

Foi a primeira vez que muitos familiares acessaram o local da tragédia-crime, que ocorreu em janeiro de 2019. “Chegar ao Mirante é estar bem próximo às nossas joias, e fazermos essa celebração é um ato de força”, diz uma das diretoras de AVABRUM

Na manhã deste dia 2 de novembro, Dia dos Finados, a AVABRUM (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão) promoveu diversas homenagens em honra e memória às 272 pessoas que morreram em consequência da ruptura da barragem da mineradora Vale. Quatro joias, como as vítimas são carinhosamente chamadas pelos familiares, ainda não foram encontradas.

Na Paróquia São Sebastião, em Brumadinho, uma missa foi realizada nas primeiras horas da manhã. Às 8h, os familiares se encontraram no letreiro da entrada da cidade para algumas orações. Várias flores foram deixadas no canteiro central e também entre as letras do nome da cidade.

Familiares de vítimas fazem uma oração no letreiro da entrada de Brumadinho. (Foto: Washington Alves)

Na sequência, os familiares foram até o local do rompimento da barragem, em 25 de janeiro de 2019, para a cerimônia principal, realizada no Mirante – bem próximo à área de buscas do Corpo de Bombeiros, que trabalham diariamente para encontrar as 4 joias na maior operação de buscas da corporação. 

Do alto do Mirante foi possível visualizar todo o campo onde a lama percorreu e ceifou as 272 vidas, além de destruir o meio ambiente com aproximadamente 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro que saíram da barragem da Mina Córrego Feijão.

Após cânticos, orações e a chamada dos nomes das joias, Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, conduziu a celebração, e uma rosa branca foi entregue a cada familiar. Em um consenso, todos optaram em não levar as rosas para casa, mas em “plantá-las” nos bancos de minério que lá ainda estão, com vista para a barragem B1, que se rompeu.

Familiares plantam as rosas brancas no mirante que tem vista para a barragem que rompeu. (Foto: Washington Alves)

Para Maria Regina da Silva, integrante da diretoria da AVABRUM, o momento foi, inicialmente, bastante doloroso, mas trouxe um sentimento de paz e de emoção pelo compartilhamento de sentimentos e mostra de força.

“Eu sempre tive muito medo e sei o quão frágil isso é. O intuito deste ato é dar a mão, reagir, ir a lugares que nunca pensávamos em ir. Chegar ao Mirante é estar bem próximo às nossas joias, e fazermos essa celebração é um ato de força. Sentir o parente próximo é muito forte. É muito bom”, disse. Dona Regina – que perdeu sua filha Priscila na tragédia-crime.

Segundo ela, a Associação busca amparar os familiares para que todos se sintam unidos, compartilhando força e buscando justiça e paz. “Buscamos ter esse cuidado com o familiar. O importante é a AVABRUM procurar trazer os familiares não somente para a luta, mas para esses momentos de paz, de cuidado, de compartilhamento de sentimento e de ajuda. Estamos muito juntos nessa”.

A cerimônia também foi um clamor pelo encontro das 4 vítimas ainda não localizadas, acalentando seus parentes que ainda não têm um lugar para fazer uma oração e levar uma flor. Ao final, foram soltos balões em homenagem às vítimas e os nomes das 4 joias ainda não encontradas – Cristiane Antunes Campos, Nathalia de Oliveira Porto Araújo, Tiago Tadeu Mendes da Silva e Maria de Lurdes da Costa Bueno – foram chamados e aplaudidos.

Família de Maria Regina da Silva em frente ao letreiro de Brumadinho após homenagear a filha Priscila Elen Silva. (Foto: Washington Alves)

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