Além da dor, os problemas com a ausência dos entes queridos

Impactos da tragédia e criação da AVABRUM são temas de interesse de antropóloga alemã, que desenvolve projeto sobre Gestão de Perdas

A Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina do Córrego do Feijão (AVABRUM) recebeu a visita da antropóloga e pesquisadora, Johannes Gutenberg Universitat Mainz, Theresa Mentrup.

A pesquisadora entrevistou a presidente da AVABRUM, Alexandra Andrade e pediu informações sobre os impactos causados aos familiares das vítimas, aos demais moradores de Brumadinho e ao meio ambiente, depois do rompimento da Barragem B1 da Mina do Córrego do Feijão, em dia 25 de janeiro de 2019, considerado a maior tragédia trabalhista do país.

Theresa faz parte de um projeto, que se chama Gestão de Perdas, em sua universidade, e vem entrevistando várias pessoas para entender como está a vida na cidade de Brumadinho e no entorno do Paraopeba, rio que também foi bastante afetado depois da tragédia. “As famílias de vítimas que moram em Brumadinho sofrem um duplo impacto: a dor da perda do ente querido e também os problemas sociais que passaram a existir por causa do rompimento da barragem”, explicou Alexandra à Theresa.

Os objetivos da AVABRUM também foram detalhados por Alexandra, que ainda contou à pesquisadora sobre o processo burocrático para a criação de uma associação que representa as vítimas do rompimento e da luta por justiça.

“Os familiares começaram a se encontrar nas reuniões de buscas, nas Comissões Parlamentares de Inquérito, no Ministério Público do Trabalho, nas audiências públicas, e foram se conhecendo até formar uma comissão. Percebemos a necessidade de ter uma associação quando a mãe de uma vítima foi ao exterior e não pode falar em nome de todos, pois foi considerada um familiar informal”, contou.

As conquistas da associação também foram abordadas por Alexandra, entre  elas o Centro de Convivência que a associação criou e o Memorial para homenagear as vítimas, que já está em obras em Brumadinho.

Alexandra ainda abordou os traumas e impactos negativos nas vidas das pessoas da cidade. “A gente teve a saúde mental muito abalada. Muitos familiares começaram a tomar remédio. Depois de janeiro de 2019, várias passaram a ter acompanhamento médico, com psicólogo”, afirmou Alexandra.

A presidente da AVABRUM ainda falou à pesquisadora sobre o Projeto Legado de Brumadinho, que busca transformar a dor da tragédia em um legado para a prevenção na segurança do trabalho e preservação do meio ambiente.

Ao final, Alexandra encerrou a entrevista fazendo um apelo. “A nossa luta é para que mais pessoas não percam a sua vida no trabalho e para que mais famílias não passem pelo que a gente está passando”.

A pesquisa de Theresa Mentrup ainda não tem data para ser concluída.

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