‘A vida não tem preço e eles sabiam o que poderia acontecer’

Alunos da Oficina de Comunicação Comunitária entrevistam diretoras da AVABRUM durante a aula de sábado, 27 de agosto. Alexandra Andrade e Jacira Francisca falaram do valor absoluto da vida

Representantes da diretoria da AVABRUM (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão) participaram, no último sábado (27/08), da Oficina de Comunicação Comunitária, do Projeto Legado de Brumadinho. Alexandra Andrade e Jacira Francisca conferiram de perto o desenvolvimento dos trabalhos dos jovens-bolsistas e foram entrevistadas. O encontro foi filmado e gravado e as respostas também serão utilizadas nas peças de comunicação produzidas na oficina.

As diretoras foram questionadas sobre valor da vida, a importância de a tragédia deixar um legado para Brumadinho e nas regiões onde tem mineração, a luta da associação por justiça, o encontro de todas as Joias, memória das vítimas e do crime, o papel do Centro de Convivência no acolhimento dos familiares e a importância da segurança no local de trabalho. A AVABRUM é a idealizadora do Projeto Legado de Brumadinho, que nasceu da necessidade de transformar a dor diante das perdas que poderiam ser evitadas.

“A Vale exigia muito que os funcionários seguissem as normas de segurança, mas, infelizmente, quando se tinha que ter um cuidado maior com os trabalhadores, comunidade, turistas, etc. Não houve transparência por parte da empresa. Eles sabiam o que poderia acontecer, segundo a denúncia do Ministério Público. As Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) da Assembleia Legislativa e da Camara dos Deputados e as investições da Polícia Federal mostraram isso também. Não havia segurança. Tinha como evitar. Costumavam fazer propagandas de segurança falando que a vida estava em primeiro lugar, mas a gente hoje vê que a vida que foi colocada em primeiro lugar foi a da empresa Vale”, ressaltou Alexandra, que é presidente da AVABRUM.

Em uma outra indagação, Jacira Francisca, que faz parte do Conselho Fiscal da associação, se emocionou. “Uma vida não tem preço. O tanto que a gente sofre por ter perdido… A cada dia é uma coisa, é um adoecimento, é um tratamento com remédio para superar a perda. Não tem nada que pague uma vida”, afirmou. 

Ao serem perguntadas pelos alunos em relação ao trabalho que a oficina tem feito, ambas reforçaram a sua importância e o legado que pode trazer. Para Alexandra, o CEJA (Comunicação Expressiva Pelas Joias) – nome escolhido pelo grupo de jovens para se referir à oficina – pode contribuir muito convidando a comunidade para participar das redes sociais da AVABRUM e chamando para os atos e outras atividades.

“Precisamos também lembrar que ainda tem quatro famílias que sofrem por não terem encontrado os entes queridos. É importante dar voz e falar sobre esses assuntos. Até hoje sofremos o impacto, e a Vale e a Tüv Süd precisam ser penalizadas. É falando, mostrando e cobrando responsabilização que vocês também podem contribuir”, explicou.

Durante a entrevista, todos os assuntos abordados foram muito próximos para os jovens participantes, pois eles têm lembranças e sentimentos sobre a tragédia-crime, já que também perderam entes queridos com o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. Os jovens estão finalizando a produção de programas de rádio, documentário e uma revista (Fanzine). Todos os projetos serão publicados nas redes próprias do CEJA que serão criadas.

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